Para Clarice Lispector
“Eu
gostaria mesmo era de poder um dia afinal escrever uma história que começasse
assim: "era uma vez...”
Era uma vez uma menina - mulher - que acreditava
não ser amada. Pensava nunca ter vivido um amor pleno. Então se pôs a tentar
entender o mundo. Primeiro imaginou não existir amor - mera imposição da
sociedade. Depois pensou em amar quem não amava para não sofrer. Fingiu. Essa
menina sabe fingir bem para não magoar os outros. Não descobriu nada. Continuou
sofrendo e pensando não ser amada. Então, certo dia, pensou que não havia mais
sentido viver. A vida a castigava. Por qual motivo? Algo de errado acontecia
com essa menina. Não podia amar e ser amada. Não era desejada por quem
desejava. Não podia comprar a felicidade. A vida a consumia. Nem sonhos tinha.
Vazio. Teve medo. Medo de tudo. Inclusive do medo. Chorava. Queria fugir, mas
tinha medo, muito medo.
Alguém sussurrou baixinho para ela: você precisa de
amor. Mas ela entendeu que precisava amar outras pessoas. Desesperadamente
tratou de amar a todos que passavam pela sua vida. Percebeu o amor das pessoas.
Mas não se sentiu amada. Chorou. Pensava: onde está meu
amor? Por que não amo o que posso amar? E prosseguiu amando.
Muita confusão fez. Muitas pessoas sofreram com sua
falta de amor, pois distribuiu sem critérios. A menina estava perdida.
A vida dessa menina estava toda errada. Tinha tudo
e tinha nada. Ela pensou em abandonar. Seguir nesse caminho vazio para ver o
que aconteceria. Mas a vida não permitiu. Coisas mágicas aconteciam na vida
dessa menina. Ela sentia o medo ainda. Mas sentia amor. Sentia as pessoas. Teve
vontade de viver. Viver plenamente.
Mas a essa altura da história a menina nem sabia
mais quem era. E começou por se imaginar corajosa, mas não era. Simples, mas
não era. Perfeita, mas não era. Parou. Pensou. Analisou. Perdeu o rumo.
A vida novamente mostrou-lhe a direção. Rumo a seu
interior. Remexeu e vasculhou tudo o que estava dentro. Jogou umas coisas fora,
outras descobriu. E não sabia o que fazer com elas. Então uma fada apareceu e
mostrou o que fazer com cada pedaço do que foi encontrado. E assim ela fez. Foi
difícil. Alguns eram pesados demais, outros perigosos. Mas ela fez. Mesmo
doendo.
A fada a colocou frente ao perigo. Ela
aceitou. E nada aconteceu. Sentiu-se forte. A menina prosseguiu corajosa, porém
silenciosa. Aprendeu a calar-se. Ouviu as instruções e prosseguiu. Como
presente a fada lhe respondeu a todas as perguntas.
E a menina descobriu que sempre foi amada. Nem
sempre como imaginou - príncipes e princesas - famílias felizes e perfeitas,
mas foi amada. Descobriu, também, que os erros são necessários. E o mais
importante: descobriu o amor.
Satisfeita com a resposta agradeceu a fada e
continuou seu caminho. Calada. Observando o amor existente em todos os
momentos. Sem medo. E a partir daquele dia coisas maravilhosas aconteceram com
aquela menina.
Ouviu críticas a sua forma de amar e soube explicar
sem medo. Houve a compreensão. Ouviu elogios e não desconfiou. Sentiu carinho e
não pensou ser falso. Deixou o amor entrar em sua vida. A menina, agora, se
sente mulher.
E o mais bonito dessa história é que ainda não
chegou ao fim. Está apenas começando.
Era uma vez uma mulher feliz.
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