Posted on quarta-feira, 2 de novembro de 2011 · Leave a Comment
Uma
carta para alguém que já partiu
Escrevo
essa carta para alguém que aqui não mais se encontra. O tempo retirou sua
presença. Retirou não somente o espaço como a lembrança. Não sei se essas
palavras podem chegar nesse espaço infinito que ocupa, mas sei que a amplitude
do pensamento deve alcançar.
Escrevo
essa carta para alguém que partiu sem se despedir. Para alguém que tentou
avisar dos perigos de acreditar na simplicidade dos sentimentos. Tentou impedir
o esboço da liberdade. Passou seu tempo ensinando o não querer.
Escrevo
essa carta para alguém que partiu triste. Talvez o sorriso não pudesse
compartilhar o espaço que agora ocupa. Talvez tenha me ensinado a esquecer.
Talvez tenha me ensinado a perder. E sorrir. Talvez.
Escrevo
essa carta para alguém que partiu com dúvidas e segredos. No silêncio. Aliás, o
silêncio que hoje sei ouvir. O silêncio tão sentido. O silêncio e o vazio de um
espaço não definido. Era como se o tempo estivesse desorientado. Somente
desencontros.
Escrevo
essa carta para alguém que partiu diversas vezes num único momento. E esse
momento se repete na não compreensão de sua partida. Alguém que chega ao mundo
já se despedindo.
Escrevo
essa carta para alguém que partiu confuso. E deixou a clareza de sentir a
tristeza profunda da perda. Procurar e ter a certeza de não encontrar. Deixou
algo mais sentido que a saudade. Porque temos saudade de quem podemos
reencontrar e abraçar. E como reencontrar quem partiu para um tempo contrário?
Escrevo
essa carta para alguém que partiu triste. E ensinou a sentir alegria por
sermos.
Escrevo
e penso no que realmente existe. Penso na fragilidade humana. Na amplitude do
tempo. Na discórdia. Na realidade. Fantasia. Vida. Morte.
Escrevo
essa carta e não espero resposta. E por que escrevo?
Escrevo
essa carta sem entender minhas palavras. E por que escrevo?
Escrevo
essa carta para alguém que partiu e não pude dizer o quanto a presença foi
oportuna. O quanto a presença, mesmo triste, me fez viva. O quanto a presença,
mesmo triste, me fez alegre.
Escrevo
essa carta para alguém.
Alguém
– sem definição exata – sem tempo e espaço. Chegou e partiu
Vá!
E encontre seu tempo. Vá! Encontre seu espaço!
Escrevo
essa carta para alguém que partiu. Alguém que não pude me despedir.
Vá!
E sorria. Há sempre espaço para a alegria. Há sempre um lugar. Um caminho. Uma
explicação.
Escrevo
para alguém que partiu antes mesmo de chegar. E espero que nesse intervalo
entre chegar e partir – partir e chegar- tenha encontrado a paz.
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